quinta-feira, 14 de março de 2013

Dia Nacional da Poesia



 (Data do nascimento do poeta baiano Castro Alves)
Antônio Frederico de Castro Alves – Nasceu na fazenda Cabaceiras no dia 14 de março de 1847.


O Livro e a América
Castro Alves

Talhado para as grandezas,
Pra crescer, criar, subir,
O Novo Mundo nos músculos
Sente a seiva do porvir.
— Estatuário de colossos —
Cansado doutros esboços
Disse um dia Jeová:
"Vai, Colombo, abre a cortina
"Da minha eterna oficina...
"Tira a América de lá".
Molhado inda do dilúvio,
Qual Tritão descomunal,
O continente desperta
No concerto universal.
Dos oceanos em tropa
Um — traz-lhe as artes da Europa,
Outro — as bagas de Ceilão...
E os Andes petrificados,
Como braços levantados,
Lhe apontam para a amplidão.
Olhando em torno então brada:
"Tudo marcha!... Ó grande Deus!
As cataratas — pra terra,
As estrelas — para os céus
Lá, do pólo sobre as plagas,
O seu rebanho de vagas
Vai o mar apascentar...
Eu quero marchar com os ventos,
Corn os mundos... co'os
firmamentos!!!"
E Deus responde — "Marchar!"

"Marchar! ... Mas como?... Da Grécia
Nos dóricos Partenons
A mil deuses levantando
Mil marmóreos Panteon?...
Marchar co'a espada de Roma
— Leoa de ruiva coma
De presa enorme no chão,
Saciando o ódio profundo. . .
— Com as garras nas mãos do mundo,
— Com os dentes no coração?...
"Marchar!... Mas como a Alemanha
Na tirania feudal,
Levantando uma montanha
Em cada uma catedral?...
Não!... Nem templos feitos de ossos,
Nem gládios a cavar fossos
São degraus do progredir...
Lá brada César morrendo:
"No pugilato tremendo
"Quem sempre vence é o porvir!"
Filhos do sec’lo das luzes!
Filhos da Grande nação!
Quando ante Deus vos mostrardes,
Tereis um livro na mão:
O livro — esse audaz guerreiro
Que conquista o mundo inteiro
Sem nunca ter Waterloo...
Eólo de pensamentos,
Que abrira a gruta dos ventos
Donde a Igualdade vooul...
Por uma fatalidade
Dessas que descem de além,
O sec'lo, que viu Colombo,
Viu Guttenberg também.
Quando no tosco estaleiro
Da Alemanha o velho obreiro
A ave da imprensa gerou...
O Genovês salta os mares...
Busca um ninho entre os palmares
E a pátria da imprensa achou...
Por isso na impaciência
Desta sede de saber,
Como as aves do deserto
As almas buscam beber...
Oh! Bendito o que semeia
Livros... livros à mão cheia...
E manda o povo pensar!
O livro caindo n'alma
É germe — que faz a palma,
É chuva — que faz o mar.
Vós, que o templo das idéias
Largo — abris às multidões,
Pra o batismo luminoso
Das grandes revoluções,
Agora que o trem de ferro
Acorda o tigre no cerro
E espanta os caboclos nus,
Fazei desse "rei dos ventos"
— Ginete dos pensamentos,
— Arauto da grande luz! ...
Bravo! a quem salva o futuro
Fecundando a multidão! ...
Num poema amortalhada
Nunca morre uma nação.
Como Goethe moribundo
Brada "Luz!" o Novo Mundo
Num brado de Briaréu...
Luz! pois, no vale e na serra...
Que, se a luz rola na terra,
Deus colhe gênios no céu!...

Do livro: "Poetas Românticos Brasileiros", vol. I, Editora Lumen, SP, s/ano


O POETA E A POESIA

 Júlio Nessin

Pra não dizer que não falei de você
Que você tenha um poeta a cada esquina
Pra não dizer que não pensei em você
Que você não deixe de ser menina
Pra não dizer que eu não amo você...
Que você não seja ouro, mas seja a minha mina...
Só existo porque tenho você!
Só vivo porque você é minha vacina
Poeta, eu sou sem querer!
Poesia, tu és a minha sina!

POESIAr
 Júlio Nessin

Poesia é imagem e som...
Movimento e dom...
Sentimento e cor...
É a maior expressão do amor!
Pintar poesia é "fazer amor"
O dengo das formas
A dança da flor!
Cantar poesia é gemer sem dor
Gozar por encanto
É fazer “arte” no cantinho do gol.

Ao mestre com carinho, dedico esta singela poesia em sua homenagem!...
Hoje, Dia Nacional da Poesia, por ser o dia do seu nascimento, poderia também ser o dia da Paixão, dia do Amor, dia da Loucura, ou dos Loucos!...
Como dizem que baiano não nasce, mas, estreia, Castro Alves nasceu, ou melhor, estreou para vida num domingo, às 10h da manhã, no ano de 1847, às margens do rio Paraguaçu, sete léguas distante de Curralinho, hoje cidade de Castro Alves.

CANÇÃO DO VIOLEIRO
 Castro Alves

Passa, ó vento das campinas,
Leva a canção do tropeiro.
Meu coração ´stá deserto,
´Stá deserto o mundo inteiro.
Quem viu a minha senhora
Dona do meu coração?

Chora, chora na viola,
Violeiro do sertão.

Ela se foi ao por da tarde
Como as gaivotas do rio.
Como os orvalhos que descem
Da noite num beijo frio,
O cauã canta triste,
Mais triste é meu coração.

Chora, chora na viola,
Violeiro do sertão.

E eu disse: a senhora volta
Como as flores da sapucaia.
Veio o tempo, trouxe as flores,
Foi o tempo, a flor desmaia.
Colhereira, que além voas,
Onde está meu coração?

Chora, chora na viola,
Violeiro do sertão.

Não quero mais esta vida,
Não quero mais esta terra.
Vou procurá-la bem longe,
Lá para as bandas da serra.
Ai! Triste que eu sou escravo!
Que vale ter coração?

Chora, chora na viola,
Violeiro do sertão.

Canção do Violeiro - Publicado em 1865. Poemas de Castro Alves Musicados por Gibran Helayel.
Poema publicado no livro Castro Alves, Obra completa em um volume, Rio de Janeiro, Ed. Nova Aguilar, 1976, p. 256.



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