Texto e Contexto


Brinquedos de miriti ganham vida em 2 novos filmes

O miriti, matéria prima dos tradicionais brinquedos do Círio, ganha vida mais uma vez nas mãos do animador e ilustrador paraense Andrei Miralha. O diretor de “Admirimiriti” lança agora, simultaneamente, dois curtas-metragens sobre o tema: a animação “Nossa Senhora dos Miritis” e o documentário “Miriti-Miri”.

As três animações serão exibidas hoje (5), às 10h30, no Cine Olympia, com entrada franca. O evento faz parte do lançamento do DVD “Miritis”, que reúne a trilogia e poderá ser adquirido no local por R$ 20,00. O trabalho tem o patrocínio do Banco da Amazônia através da Lei Rouanet de Incentivo à Cultura, do governo federal.

O miriti é extraído de uma palmeira muito comum nas áreas de várzea da Amazônia e povoa o imaginário paraense através do artesanato, criado especialmente para as crianças. “Nós convidamos os artesãos de Abaetetuba para participar da exibição. Espero que eles realmente possam estar presentes”, disse Andrei

A partir de amanhã (6), os três filmes e a animação “Muragens - Crônicas de um Muro”, também de Andrei Miralha, entram em cartaz no Cine Olympia e devem fazer parte do projeto “A Escola Vai ao Cinema”.

“É a segunda vez que eu tento organizar esse DVD, fazer uma coisa mais didática a respeito do miriti. O documentário foi montado exatamente com essa intenção, de ser levado para as escolas e poder servir de fonte de conhecimento para as crianças e jovens.”, conta o animador.

A trilha sonora dos três filmes foi composta pelo músico André Moura. Ele também compôs a canção “Miri Miriti”, especialmente para o documentário, com interpretação da atriz Ester Sá.

“As músicas são ritmadas e diversificadas. Suas levadas são bem paraenses, como o carimbó e a guitarrada, o que dá um clima bem divertido aos filmes”, ressalta Miralha.

ADMIRIMIRITI

“Admirimiriti” foi produzido em 2005 e reeditado especialmente para o DVD. A animação mostra os brinquedos de miriti expostos numa feira. E conta a história de um boneco dançarino de brega que é abandonado por sua parceira e, a partir daí, sai em busca do seu par.

Realizado com apenas 15% do orçamento de “Nossa Senhora dos Miritis”, o curta foi produzido por meio da Bolsa de Pesquisa do Instituto de Artes do Pará (IAP).

“Tenho uma admiração enorme pelo miriti e quando pensei em fazer uma animação vi o quanto que poderia render. O universo dos brinquedos é incrível, suas cores, formas, e ainda representam a nossa cultura, o imaginário amazônico”, explica o animador.

NOSSA SENHORA DOS MIRITIS

Nesta animação, a artesã Dona Neneca, dublada pela atriz Ester Sá, faz uma promessa para Nossa Senhora de Nazaré e às vésperas do Círio, ela se propõe a confeccionar uma procissão em miriti para alcançar uma graça. Porém, exausta pelo trabalho que se impõe, ela acaba dormindo, deixando a tarefa inacabada. Mas, na calada da noite, um milagre acontece, e os bonecos ganham vida para ajudar a devota.

“A ideia de montar essa animação surgiu ainda quando fazíamos a produção do ‘Admirimiriti’, em Abaetetuba, e tivemos a oportunidade de conhecer o local de produção dos brinquedos”, conta o diretor.

A principal diferença desta animação para o “Admirimiriti” é a presença de figuras humanas, o que exige muito mais do animador.

“É a primeira vez que faço um filme com personagens falando. O que é bem mais difícil e requer mais cuidado com as expressões faciais. Porém, foi uma experiência nova e bem divertida”, explica.

A animação de 13 minutos tem vozes de Andréia Rezende (que faz Nena, neta de Dona Neneca) e Roberto do Vale (radialista). O orçamento foi de R$ 60 mil.

“A técnica é a mesma de ‘Admirimiriti’, o 3D, mas existem diferenças tecnológicas e de orçamento. Em termos de qualidade, também é possível ver a diferença na luz e na renderização, que é o que deixa o filme com mais aspecto de real. Não conseguimos melhorar ainda mais por falta de equipamento e profissionais aqui em Belém”, analisa.

O trabalho foi premiado no edital de Curta-Metragem Gênero Animação do Ministério da Cultura (MinC) em 2009. “Nossa Senhora dos Miritis” também foi selecionado para a mostra competitiva Infantil do Anima Mundi 2011, que acontece no Rio de Janeiro, de 15 a 24 de julho, e em São Paulo, de 27 a 31 de julho.

É a segunda vez que Andrei Miralha concorre neste que é o mais importante festival de animação nacional. Em 2009, ele foi classificado para a mesma categoria com o filme “Muragens - Crônicas de um Muro” (2008).

MIRITI-MIRI

O filme “Miriti-Miri” marca a estreia de Andrei Miralha nos documentários. O trabalho, que faz parte dos extras do DVD, foi pensado como uma contextualização do desenho para o público infantil.

“O documentário fecha as histórias das animações. Ele mostra como é feito e a origem do miriti. Tudo com uma narração bem descontraída e dinâmica, que provavelmente vai atrair os jovens”, explica o diretor.

O curta tem 15 minutos de duração e explica didaticamente desde a extração da matéria prima até a confecção dos brinquedos no município de Abaetetuba, passando pela sua relação com as festividades nazarenas.

“Miriti-Miri” conta com as ilustrações de Otoniel Oliveira, imagens de Renato Chalu e texto de Adriano Barroso. A produção foi possível graças ao patrocínio do Banco da Amazônia, através da Lei Rouanet, captada este ano.

PRODUÇÃO

Os trabalhos foram todos realizados em Belém. Andrei Miralha ressalta a dificuldade de produzi-los. “Nós não vivemos disso, fazemos porque gostarmos. Então, nem sempre conseguimos nos dedicar como é necessário. Tanto que ‘Nossa Senhora dos Miritis’ demorou dois anos para ficar pronto”, conta o diretor.

A falta de profissionais e equipamentos acaba atrasando a produção. “Em qualquer estúdio preparado para esse tipo de trabalho as etapas são dividas por profissionais específicos. Aqui não. Nós fazemos tudo”, explica

Ética

O comportamento comporta a mente
E tão somente porta o que a mente sente
Longe e ao vento
A porta aparte
Não parte de frente
A parte da mente não mente
Só sente...
Preceitos de valores morais são pertinentes
Amores normais seriam perfeitos
Mais que cedo ou tarde, reage...
E se arde nas atitudes rudes e rudimentares
Sem púlpitos e nem altares
De homens que destoam dos animais
Por condutas desumanas
Como muitos políticos eleitos ou não
Em atos com defeitos por ambição
Que, se para a sua própria alma ele engana
Para os outros fazem mal demais
Pois fogem das regras e normas
Que nem sempre são escritas
Ou às vezes são legais
Mesmo que de formas esquisitas
São imorais e vão além da indecência
Para os pactos de convivências
Que buscam e rebuscam o amor e a paz.

Júlio Nessin
Publicado no Recanto das Letras em 19/07/2009